quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Sala de espera

  Se tinha uma coisa que eu detestava era ir a médico ou dentista. Não pelo medo dos profissionais ou dos diagnósticos, mas pelo longo tempo perdido nas salas de espera. Esse tempo longo, parecia interminável. Era sempre a mesma coisa. Aquela música de fundo ou a tv ligada, quase sem som, um verdadeiro exercício de leitura labial. Eu, sempre muito agitada , ficava tentando arrumar uma desculpa pra ser atendida na frente de todo mundo ou pra remarcar a consulta logo no primeiro horário de um outro dia qualquer. Até que um dia, precisei consultar um psiquiatra.
    Cheguei no consultório e entreguei meus documentos pra secretária. Sentei. À minha esquerda havia um casal. A moça espremia os cravos do rapaz enquanto ele abria e fechava a pulseira do relógio. À minha direita havia um senhor. Acredito que no caminho pro consultório, ele tenha adquirido o seu primeiro celular. Pq? Então.... Ele escolhia uma campainha pras chamadas recebidas. Ligava pra alguém e dizia:
  - Querido, me faz um favor. Retorna pro meu celular. Preciso fazer um teste.
  A pessoa provavelmente pensava que o celular dele estava com algum problema e ligava. Tocava aquela campainha super alta que ele fazia questão de ouvir quase até o final. Quando ele finalmente atendia...
  - Obrigado, querido. Já tirei minha dúvida!  -  Acabou? Não. Ele escolhia outra campainha e repetia todo o processo. Ah, muito inteligente, ele sempre ligava pra pessoas diferentes.
  No sofá da frente havia uma moça com um menino. O garoto usava sua arma imaginária para acertar a secretária. A secretária fazia caretas para o menino. Sabe aquelas caretas que as crianças fazem pra outras crianças quando elas não se gostam? Dando língua e mostrando os dentes? É, assim mesmo. A moça que acompanhava o garoto estava ali só de corpo presente. Ela usava fones de ouvido, balançava a cabeça com os olhos fechados e cantava num idioma que eu não identifiquei até hoje. E desse jeito, eles permaneciam até que o médico os chamassem pra consulta. Comecei a mudar o meu conceito sobre salas de espera. Percebi que observar os outros podia ser divertido.
  Chegou a minha vez e pensei "A diversão acabou. " Até que reparei que o médico provavelmente tinha TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Depois de cada frase que ele concluía, enrolava as pontas do bigode. Sempre que eu tirava as mãos da mesa, ele limpava o local com um lenço de papel descartável e álcool gel. Percebendo isso, comecei a apoiar e tirar a mão da mesa cada vez mais rápido. E com isso, ele gastou uns 15 lenços e meio litro de álcool. E eu, que procurei ajuda profissional temendo uma crise depressiva, a essa altura tinha lágrimas nos olhos consequentes das gargalhadas que eu tinha que engolir.
  Passei a observar as pessoas nas salas de espera. Aguardar a minha vez havia ficado divertido principalmente nos consultórios de Psiquiatria e Psicologia. Percebi que médicos, psicólogos e as respectivas secretárias também não são lá muito normais. E assim eu me encontrei. Em meio aos não tão normais, comecei a ver graça também nas minhas loucuras. E cara, na boa,  as salas de espera de psicólogos e psiquiatras passaram a ser um dos meus programas favoritos.


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